Ano passado em dezembro Lia Paris se apresentou no estúdio Áudio Rebel, no Rio. Estava de passagem em turnê com o Legião Urbana. Aos 30 anos, ela brilha cada vez mais numa carreira solo temperada por parcerias com Samuel Rosa, Marcelo Jeneci e Dado Villa-Lobos. Voz poderosa, visual indie-punk-roqueiro, seu próximo show, dia 4 de março, no ZCarniceria (antigo Aeroanta) em São Paulo, terá produção musical de Daniel Hunt, criador da banda Ladytron. 

 

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Cantora, compositora, estilista de sua própria marca de moda praia retrô, engolidora de fogo e trapezista, Lia Paris começou sua carreira pelo mundo do circo. Aos 15 anos, montou sua primeira banda de soul, a Destilaria do Groove. No circo, especializou-se em pirofagia e trapézio e aos 17 viajou com uma trupe mambembe pela Europa. De volta ao Brasil, formou o grupo Paris Le Rock com quem passou a cantar músicas em francês. "Hoje ainda canto em francês mas não nos meus shows", conta.

No próximo show, vai usar o talento circense para o respeitável público

Formada em moda pela Faculdade Santa Marcelina, é ela que cria as próprias roupas. Explica que ultimamente tem se dedicado completamente à música, deixando um pouco de lado sua grife de moda praia.  Na próxima apresentação pretende usar no palco o talento circense.

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"Atualmente estou preparando meu novo show que se chama 'Azul e Flores', nome de uma música que fiz justamente em homenagem à minha passagem pelo circo que tanto enriqueceu e fez parte de um mundo lúdico, que criei e alimentei em mim. A Fantasia sempre fez parte do meu imaginário, foi base das minhas inspirações, paixões e até ilusões, muito do que sou hoje diz respeito à experiência que tive com o circo, na época do circo ou por causa dele", contou Lia.

Parceria com Daniel Hunt do Ladytron

A parte musical de "Azul e Flores" tem produção de Daniel Hunt. "Um grande parceiro recente", continua a cantora. "Nós nos conhecemos no culto do Fvtvrv e nossas afinidades nos levaram naturalmente a partir para outros projetos. Daniel (Ladytron) sempre foi alguém importante no meu subconsciente. Sou realmente fã dessa banda e do universo do trabalho deles, e mesmo antes de conhecê-lo, admirava suas produções eletrônicas, sombrias e tão cativantes. Será uma honra poder trabalhar com ele e sem dúvida uma experiência incrível e engrandecedora".

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De todas as parcerias da cantora, uma das mais interessantes é com o namorado e artista Stephan Doitschinoff, o Calma (abreviatura de Com Alma), fundador do Culto do Fvtvrv. "O show terá um cenário que foi desenvolvido e criado por mim e por Stephan, que também criou comigo a estética e o conceito", diz Lia, que faz parte do Culto do Fvtvro e recentemente, junto com Stephen compôs dois hinos para as três marchas do grupo, que é muito ativo em São Paulo.

 O Culto do Fvtvro e a mudança pela arte

"O culto do Fvtvrv é uma sociedade filosófica, que acredita que a arte é essencial pois é o lado sensível da mudança. Não acreditamos que a mudança venha da política ou das instituições mas da arte e do estilo de vida. É o nosso meio mais puro de manifestar o que está mudando. Nossa arma é a criatividade. Por isso o culto tem hinos, símbolos, uniformes e bandeiras", explica Lia, que vive com Stephen uma intensa troca.
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Stephen Doitschinoff e Lia Paris, uma história de amor e criação

De 2005 a 2008, Stephen morou em Lençóis, na Bahia, onde pintou murais, inspirado nas lendas e histórias dos habitantes. As fachadas das casas, a igreja e até mesmo o cemitério foram coloridos pela arte do Calma, que na época já pintava uma deusa muito parecida com Lia Paris. Vale a pena ver o documentário desse trabalho em "Temporal", produzido pela Movie Art.

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"Realmente", confirma Lia, "Stephen pinta uma entidade que tem as formas e as proporções parecidas comigo. No pôster do show sou eu como se fosse parte dessa entidade. Ele também desenhou uma joia no formato de armadura. É um colar feito de cobre com banho de ouro, confeccionado pelo artesão Lucas Shirt, que também faz as joias, medalhas e acessórios do Culto do Fvtvro. Eu e Stephen nos complementamos. É bacana e raro", diz Lia.

Videoclipe no Cambodja

O primeiro trabalho solo da cantora, um EP de três faixas intitulado "Wild Boy" (música composta em parceria com Marcelo Jeneci) foi lançado em Nova York em novembro de 2013 e no Brasil em março de 2014. O clipe, gravado no Brooklin sob direção de Lee Peterkin, teve a participação de Andre Ziehe, que na época namorava Lia. Em seu último clipe, gravado no Cambodja, Lia Paris fez duas músicas inspiradas em Stephen: "Três vulcões" e "Calma".

Ela conta que carrega uma certa melancolia por não ter seguido o caminho do circo. "Mas acho que faz parte da nostalgia poética sobre o passado e as possibilidades que não escolhemos viver. Penso sim em trazer elementos e talvez até aparelhos circenses para as minhas performances no palco, mas se acontecer, será num no futuro. Agora o circo está presente apenas em referências sutis como a própria música e o nome do show sugerem", observa.

No momento, Lia se sente no início de uma estrada. "Uma estrada bonita e ensolarada como as músicas 'Foguete' e 'Aniversário', mas num caminho desafiador e enigmático. Escrevo muito traduzindo o que sinto, mas uma dose de auto ajuda sempre há. Digo o que diria para mim mesma, só que em voz alta", afirma.

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Atualmente a artista sente-se privilegiada "de ter tido um início já com tantas conquistas e parcerias verdadeiramente plenas e genuínas com artistas que admiro e aprendo tanto, mas tenho a consciência de que esse é só o início e de amanhã será também outro início, só que de outra mini estrada ou avenida da vida. A escolha de viver de arte tem isso, ter de lidar sempre com incerto, com o desafio. 'Foguete' e 'Aniversário' marcam bem essa passagem, esse sentimento de potência, de vontade de saborear as conquistas do jeito mais otimista como deveria sempre ser, mas que nem sempre conseguimos sentir".

Fotos: Ali Karakas (banda e rosto de Lia Paris) e Stephen J. Grant (Lia Paris e Daniel Hunt) 

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