Com apenas 32 anos o artista franco tunisiano El Seed é um dos grandes nomes do grafite mundial. Com a técnica que ele chama de “caligraffiti”, muros ao redor do mundo vêm recebendo sua marca em grafismos que não só decoram mas contam histórias. Seus desenhos já foram impressos até em lenços da famosa Louis Vuitton. No Brasil para o Art Rua, ele fala de seu mais recente projeto, “Lost walls”, nos desertos da Tunísia e da mensagem que deixou em uma parede do Morro do Pinto no Rio. Descubra seus significados.

Chegando no Rio sua principal meta era pintar um muro da cidade maravilhosa. O que já estava certo virou uma saga devido à não autorização da prefeitura. Até o primeiro dia de evento ainda não era certo a sua pintura até que uma moradora do Morro do Pinto cedeu uma de suas paredes para a obra. De lá pra cá ele não parou mais e outro muro agora atrás do centro Cultural da Ação da Cidadania foi pintado.

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Assim como nos muros da Tunísia, El Seed também quis deixar uma mensagem nos muros cariocas. Seu  grafite no Morro do Pinto, no centro do Rio de Janeiro, traz um poema de Gabriel Rubens Barroso sobre uma menina da favela que virou poeta. Tudo isso no formato colorido e forte com suas sobreposições de caligrafias árabes. 

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Filho de imigrantes tunisianos, El Seed nasceu e cresceu na França. Com talento para o desenho e pintura desde pequeno, acabou escolhendo outro caminho por falta de incentivo. Cursou Administração e negócios e se tornou consultor, mas nunca deixou a arte de lado e usava as noites e os finais de semana para pintar. “Quando minha filha nasceu decidi deixar meu trabalho. Sentia que não estava alimentando a minha alma e só poderia fazer isso focando na minha arte. Foi um grande risco, mas graças a deus valeu a pena”, conta.

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A marca registrada de seu trabalho, o “caligrafitti” surgiu das raízes árabes. Com dificuldade em criar sua própria identidade resolveu buscar nos antepassados conexões com sua arte. “Senti uma necessidade de voltar às minhas raízes, de saber sobre a minha história e aprender árabe. Comecei a fazer aulas e descobri a caligrafia local. Apaixonei-me logo de cara pelos grafismos, mas nunca tive chance de aprender realmente. Acabei trazendo esse elemento do meu próprio jeito”, explica.

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Os desenhos presentes no trabalho de El Seed não têm somente fundamento estético. Na tradução estão mensagens, poemas e histórias. Uma delas chamou atenção mundialmente e foi notícia em grandes veículos. A pintura de 47 metros de uma mesquita em Jara, na Tunísia, com trecho do Alcorão poderia ser um grande incidente, mas acabou gerando reações positivas.

Arte contra a intolerância

“Tratava-se de uma mesquita, achei mais pertinente escrever um trecho do Alcorão. Havia acontecido um pouco antes, em uma feira de arte na Tunísia, um embate entre as pessoas laicas e as religiosas. Pensando nisso, resolvi colocar um trecho sobre humildade e tolerância. O resultado foram reações boas por parte de todos", diz.

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Após essa experiência surgiu a ideia de percorrer o país contando histórias locais através do grafite. O “Lost walls”, segundo El Seed, juntou a tradição com a modernidade. Em um mês ele percorreu cidades pintando muros e paredes perdidas.

Paredes predestinadas

Das 24 cidades somente uma estava programada, a antiga casa abandonada dos avós. “Eu queria deixar a minha marca nos locais, mas foram os locais que deixaram sua marca em mim. As paredes que encontrava pareciam predestinadas a mim. Como você pode encontrar um muro totalmente isolado no meio do nada em um lago de sal?”, conta. O projeto resultou em um livro, à venda na Amazon e em um documentário, que será lançado em breve.

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Um de seus trabalhos recentes fora do eixo muro-parede foram dois lenços para a renomada Louis Vuitton. “Quando me formei pedi um estágio por lá, mas não consegui. Anos depois me convidaram para uma parceria, o que foi incrível. Eles me deram carta branca para fazer o que eu quisesse. Foi uma honra poder colaborar, mas acho que não irei trabalhar com nenhuma marca tão cedo. Na verdade, estou preparando a minha própria”, afirma.

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Para o futuro o artista diz que não gosta de pensar em algo concreto e que prefere deixar as coisas acontecerem. A única certeza é de novas experimentações, principalmente saindo do bidimensional para o tridimensional com novas bases como a escultura.

Por Juliana Morais

 

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