O chapéu de palha, inspirado em Maurice Chevalier, comprado em Paris, os sapatos bicolores, gravatas borboletas, paletós, as calças em diferentes e coloridos xadrezes. Julio Rego, nosso dândi mais querido, está leiloando várias peças no leilão organizado por Carlos Eduardo de Castro Leal junto com os móveis, adornos e louças da crítica de teatro Barbara Heliodora.

A exposição dos objetos já começou e vai até segunda, dia 14, das 15h às 20h, no Largo do Boticário, no Rio de Janeiro. O leilão acontece fisica e virtualmente dias 15, 16 e 17 às 20h. "Julinho é o nosso Petrônio. Quando pensei nesse leilão tive a ideia de colocar um guarda-roupa de alguém que tivesse nome na moda. E ele perguntou para mim: será que eu tenho? Na casa da Bárbara há uma sala de estar, uma de jantar e uma biblioteca e terá o quarto do Julinho com closet", explica Carlos Eduardo, que compilou 500 peças de Bárbara e 110 de Júlio.

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Segundo Carlos Eduardo, 80% do público comprador não é do Rio de Janeiro e participa virtualmente. Para os que pensam que o Largo do Boticário sempre foi assim, ele explica: "o lugar só passou a existir com a aparência que tem hoje quando Getúlio Vargas mandou demolir o Morro do Castelo em meados do século XIX. Os moradores daqui reconstruíram as fachadas nessa época com materiais comprados da demolição".

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No leilão de Bárbara Heliodora, ele destaca vários objetos, entre eles um oratório de 1780 com dois vasos chineses pintados nas portas. "É interessante descobrir que já em 1780 a moda chinesa tomava conta da decoração em Minas. O colecionador comprou do espólio do José Mindlin", diz Carlos Eduardo, maior avaliador de móveis e quadros do Brasil, com olho clínico de quem já trabalhou com o acervo de famílias como os Guinle e a de Nelson Seabra.

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No apartamento de Julio Rego, além das roupas, alguns objetos também estão de mudança, como o móvel com patas felinas que o pai de Julinho descobriu no consultório de um dentista. "Com um olho danado, meu pai viu aquele móvel pintado de branco, servindo de suporte para os instrumentos, e propôs: eu te dou uns móveis de ferro para dentista em troca dele. Rasparam a peça e ele deu para minha mãe, que me presenteou com ele quando fez 70 anos", lembra Julio.

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Uma gravura do Volpi, um par de jarras de estanho com anjos, poltronas estão na lista do leilão. "Tem que desapegar", diz Julinho mostrando um livro sobre Oscar Wilde, edição de apenas 525 exemplares numerados, organizada pela amiga Lucia Moreira Salles em setembro de 2008.
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"Ela morreu logo depois de organizar essa edição, feita com orginais de Wilde que o Walter (Moreira Salles) comprou num leilão. Esse exemplar é o 517. Ela não queria vender mas a editora convenceu Lucia a vender por US$ 500. É o único livro que o Carlos Eduardo vai leiloar porque ele tem muito livro da Barbara", conta Julinho. A edição raríssima foi editada com a curadoria do neto do escritor, Merlin Holland, e tem verdadeiras preciosidades: a correspondência de Wilde com o estudante Bernulf Clegg sobre a natureza inútil da arte, 50 páginas manuscritas por Oscar Wilde, incluindo nove poemas manuscritos e a mais recente carta do escritor ao seu amor, Lorde Alfred Douglas.

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Julinho aponta para o chapéu de palha inspirado em Maurice Chevalier e comenta: "só dá para usar em Paris. Aqui me pegam na rua. Outro dia fui assaltado, levaram minha corrente de ouro. Os sapatos bicolores, camisas, 21 gravatas estão no leilão. Fiquei ainda com 50. Tenho mais de 100 gravatas borboletas e ainda fiquei com 60 lenços, foulards que uso no bolso desde que me entendo por gente. Tem um filme do Fred Astaire, meu ídolo, em que ele sai do quarto de lenço na mão e faz assim (reproduz com a mão o gesto de colocar o lenço no bolso), sem olhar! Fica perfeito!"

 

 

 

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