Há 20 anos surgia a São Paulo Fashion Week. Paulo Borges, criador da semana, faz um balanço contando como a SPFW não só consegue permanecer mas se renovar, atraindo nas últimas edições marcas cariocas como Lenny Niemeyer e Salinas, destaques do Fashion Rio. Ele fala que está discutindo com empresários cariocas um evento para o Rio.


A conversa com Paulo Borges aconteceu num intervalo da correria para os desfiles. Na entrada do Museu Afro Brasil, que promoveu um desfile de estilistas africanos, entre eles o famoso Xuly Bët, sensação nos anos 90 em Paris. Paulo lembra das primeiras semanas. "Elas foram muito marcantes porque quando acabava uma edição a imprensa falava: 'que bacana, mas será que teremos uma próxima temporada?'. Havia sempre a dúvida se teríamos aqui no Brasil um processo contínuo, quase como aquela gravidez que demora para vingar e é frágil. Para sair desse momento, por mais sucesso que tivesse desde o começo, as pessoas não estavam certas da continuidade. Até pelo histórico do país".

pauloborges

Outro marco foi 2001 quando a semana mudou de nome, trocando o MorumbiFashion por São Paulo Fashion Week. "Toda a imprensa, tanto a nacional como a internacional, se referia à São Paulo Fashion Week. Percebemos que havia a questão da institucionalidade, que esse era o caminho para perenizar o processo. O processo passaria a ser institucional, público e cultural," afirma Paulo.

'O Muti criou um jogo de projeções. Os desfiles passavam nas paredes ao vivo, com um lado bem tecnológico'

Isay Weinfeld, Daniela Thomas e vários outros nomes assinaram a cenografia da semana, que virou ícone no calendário da cidade durante muitos anos no prédio da Bienal e depois no Parque Cândido Portinari, dentro do Parque Villa-Lobos. Paulo tem um carinho especial pela edição do verão 2005/2006, cuja cenografia foi feita por Muti Randolph. "Na ocasião falávamos da questão da transversalidade das linguagens, que a moda sempre absorvia e inspirava, deglutia todas as outras linguagens. Fizemos uma mostra que se chamava "Olhares do Brasil" e o Muti criou um jogo de projeções. Os desfiles passavam nas paredes ao vivo, com um lado bem tecnológico", lembra.

cenografia

'Na última temporada foram mais de 680 milhões de pageviews'

A transmissão dos desfiles ao vivo pela internet foi outra conquista importante. "Eu dizia que aquilo seria o futuro. Isso foi em 2001", continua Paulo. "Fomos de forma inovadora os primeiros no mundo a fazer isso. Nova York começou há três anos. As marcas transmitiam seus desfiles mas não havia uma plataforma que fizesse isso como um todo, com bastidores e entrevistas. Ninguém faz isso até hoje. E para nós, isso era importante muito mais para dentro do Brasil do que o alcance global. Sempre valorizamos a construção de uma cultura de moda para o brasileiro, para o consumidor. Hoje temos uma rede na web tão poderosa que a informação chega de forma global e tão instantânea que na última temporada de moda foram mais de 680 milhões de views. É um absurdo. As principais plataformas como google, facebook, instagram e twitter têm parcerias conosco."

lenny

'Eu falei para a Jacqueline e a Lenny: as portas estarão sempre abertas'

A São Paulo Fashion Week viveu nessa temporada outro marco: a chegada de grifes de moda praia como Lenny e Salinas, estrelas do Fashion Rio, na passarela paulistana.  Como vê a ida dessas marcas para São Paulo? "
Sempre fui a favor de que o mundo não pode ser saudosista. É preciso olhar para frente, Tem horas em que a história determina as suas construções, os seus pilares. Mas o mundo é feito de amanhã sempre. O desfile da Lenny foi maravilhoso, o da Salinas também. A Lenny tem uma poesia, um jeito de dizer particular. Eu falei para a Jacqueline (de Biase) e para a Lenny: as portas estarão sempre abertas. Tem uma questão comercial, do momento em que elas precisam mostrar para todo o mercado, para todos os showrooms."

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'A Prefeitura do Rio deixou de investir no Fashion Rio há dois anos'

O Fashion Rio, sob a gestão de Paulo desde 2009, foi suspenso esse ano. Ao contrário da São Paulo Fashion Week teve sua continuidade interrompida. Paulo explicou: "quando assumi a gestão levamos a Prefeitura e o Governo do Estado. O Fashion Rio não esvaziou por minha responsabilidade ou da Firjan mas de dentro para fora. As próprias grifes não tinham um comprometimento com o processo. Chegava uma edição e não desfilavam. Todo aquele esquema montado para ter 17, 18 desfiles, quando poderia ter 35, 40? É o mesmo custo, a mesma estrutura. Uma coisa vai contaminando a outra. Não é fácil. Você tem que ter um planejamento de longo prazo, um foco, um comprometimento das parcerias. A própria Prefeitura do Rio deixou de investir no evento há dois anos. E eu me pergunto por que? Aqui há oito ou nove anos temos um convênio com a Prefeitura de São Paulo, com o governo de São Paulo e já mudaram quatro prefeitos na prefeitura de São Paulo".

'Tenho participado de uma discussão sobre como reconstruir um caminho para o Rio de Janeiro'

Paula afirma que está no grupo da Firjan, liderado por Oskar Metsavaht, para discutir o futuro da moda no Rio, junto com Andrea Marques, Lenny Niemeyer, Jacqueline de Biase, Sharon Azulay e Alessa. Em entrevista, Oskar afirmou que o evento continuará a ser realizado por Paulo Borges. "Tenho participado de uma discussão sobre como reconstruir um caminho para o Rio de Janeiro", explica. "Espero que tudo isso seja apresentado rapidamente para a imprensa para entenderem todo o movimento que a Firjan lidera e sempre liderou nesse sentido há mais de 10 anos no Rio de Janeiro. Acho que será em agosto. Não posso falar. Eles vão falar todos juntos. Estão tomando um cuidado tão grande para deixar tudo estruturado."

 

 

 

 

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