Uma história de boudoir sobre amor e perda, perversão, sexo e poder. Foi o título da coleção de Alexandre Herchcovitch, que abriu, na Prefeitura de São Paulo,a São Paulo Fashion Week de inverno com um desfile cheio de fetiches. Até o dia 23, no prédio da Bienal, no Parque do Ibirapuera, a semana, que comemora 20 anos, lança as novidades para o inverno 2016.

O estilista volta à essência do início de sua carreira mostrando na passarela uma feminilidade provocante entre a pureza monástica do branco e o preto, rico em vazados, argolas e zíperesA pesquisa da coleção, segundo o artista plástico Maurício Ianês (parceiro de longa data de Herchcovitch) começou com alguns fotógrafos e escritores surrealistas: Pierre Molinier, Claude Cahun, Man Ray, André Breton, "A  filosofia da alcova", do Sade.
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Nos anos 50 Pierre Molinier explorou com suas fotos os desejos transexuais, apostando no erotismo como "um lugar privilegiado, um teatro", onde excitação e proibição contracenam produzindo os momentos mais profundos da vida. Também na mesma década, Claude Cahun, pseudônimo de Lucie Schwob, dedicou sua escrita e suas imagens à discussão do gênero e da identidade, produzindo belos auto-retratos.

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Transparências revelando seios, rosto coberto sadomasô, argolas vazadas revelando o corpo, a linguagem das roupas lembrou os primeiros tempos do estilista. "Alê sempre trabalhou com fetiche, usando elementos como argolas e zíperes, que permeiam a história da marca. Achamos adequado trazer esses elementos de volta, mas trabalhados de uma forma sofisticada", explica Maurício.
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As argolas e as faixas, de cetim, gorgurão e tule, foram muito importantes para o desenvolvimento da coleção. A montagem das roupas em faixas de tecidos nobres interpretou com sutileza e requinte as amarrações fetichistas do bondage. As meninas do backstage, que perfiladas nos receberam para ver a coleção pendurada nas araras, adoraram os bodie de cetim, capaz de contornar cada curva do corpo vestindo muito bem.

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"Temos desde peças que têm as fitas de tule e gorgurão bordadas até roupas inteiras montadas com fitas, uma do lado da outra. O desfile tem uma narrativa que mostra a mulher indo para a alcova. Ela sai com as camisolas, que já têm detalhes de argola mais delicados, entra uma camisola preta e um look preto com o rosto coberto. A partir daí o desfile vai ficando mais pesado", diz Maurício.

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Dois looks brancos quebram a dominação do preto. "Quisemos porque o tecido é maravilhoso, um cashmere branco, e porque um deles é mais esportivo e o outro bem monástico, que dá uma abertura bem no meio do desfile. Abre para afundar depois! (ri). Existe essa dualidade entre o monástico e a perversão. A coleção tem looks pretos cobertos até o pescoço com corte de alfaiataria e rasgos, transparências revelando os seios", diz Mauricio, que encerrou o desfile com Crying Game, de Boy George.

Na primeira fila, a escritora Fernanda Young, de calça comprida, camisa branca e bigodinho pintado, personificou o clima da coleção.

 

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