Apenas uma mecha colorida de cabelo iluminando o look preto, Sonia Pinto apresentou sua série limitada de echarpes ilustradas pelo artista plástico Fernando Vilela na Dona Coisa, no Jardim Botânico, no Rio. Fernando Vilela teve duas obras suas de 2012 incorporadas ao acervo do MoMA, em Nova York. Para emoldurar ou para vestir.

 
Os desenhos de Fernando Vilela foram estampados por Sonia em serigrafia na fábrica São Clemente, única a fazer esse tipo de trabalho no Brasil. “Usei duas sedas alemãs e uma nacional, da Suntex, uma das últimas com qualidade internacional do mercado, atualmente com graves problemas para se manter.”

Montadas em instalações, as echarpes foram lançadas na loja de São Paulo, uma verdadeira galeria de arte na Rua General Jardim, 770, em Higienópolis. Depois foi a vez de Belo Horizonte e em seguida, no último dia 16, na Dona Coisa. Dia 31 haverá um grande evento em Belém, na Euforia com a presença do artista, como aconteceu em São Paulo e Belo Horizonte.

Fernanda Takai

Dona da marca Printemps nos anos 80, um dos talentos do Grupo Mineiro de Moda, Sonia sempre uniu moda e arte. Foi na Dona Coisa que, há alguns anos, eu soube de sua volta com a marca Sonia Pinto, carro-chefe da multimarcas de Roberta Damasceno, onde, graças a Roberta, comprei uma camisa de malha de mangas compridas, que desabrochava numa gola de tafetá roxa. Cool e chique.

Volta e meia Sonia vem ao Rio. Já esteve aqui para assistir ao show de lançamento do álbum de Fernanda Takai, de quem fez o figurino em clima de gueixa contemporânea. Vera Holtz, que acaba de estrear "Timon de Atenas", de Shakespeare, no Teatro Maison de France, é outra cliente querida. Depois da pré-estreia, vestiu um modelo Sonia Pinto preto, iluminado por um raio de laranja.

soniateatro

Sonia é tão sutil que sua loja em Belo Horizonte fica escondida no alto de uma ladeira na rua Melo de Souza, 87, em Vila Paris. Chegando lá, ao descer as escadas, encontramos um lugar com jeito de ateliê e vista para uma laranjeira de verdade, que faz você se sentir dentro de uma ilustração. É um espaço mágico nos mínimos detalhes, como o delicioso café tomado na xícara assinada pela ceramista Kimi Nii. E se você experimentar uma roupa sequer, da simples camiseta ao vestido longo... Pronto, caiu no feitiço: não vai mais tirar.

Olhos vivíssimos por trás dos charmosos óculos de grau, diante de um café, na Casa Carandaí, Sonia fala empolgada das echarpes. “Elas foram feitas na fábrica São Clemente, do seu Helmuth (Spengler), que fornecia seda para o Brasil e o mundo inteiro”, conta, lembrando com tristeza que o parque deles quebrou como consequência de um dos períodos mais difíceis vividos pelos empresários do setor.

Echarpes Sonia Pinto

Branca, modelo e designer, Thiago, o caçula, que é fotógrafo, Fabiano, responsável pelas artes visuais da marca, e Norton, do setor administrativo e financeiro, cercam a mãe de carinho e eficiência. “Fico muito triste ao ver o que está acontecendo ao nosso redor. Vamos fazer uma coisa bonita, vamos levar beleza para a vida! Essa briga é exaustiva. Já falei com meus filhos, pelo amor de Deus, mudem de ramo, façam outra coisa, não sejam tão exigentes. E eles dizem: ‘mãe, você plantou o pé de tomate e quer tirar laranja dali’,” diz Sonia, brincando.

Arte, moda e música andam juntos para Sonia Pinto, que tem 30 pessoas, parceiros de longa data, na equipe. Eles funcionam como uma orquestra, que "para estar afinada exige a costura do tempo, perseverança para alinhavar potências criativas, sensibilidade para envolver colaboradores na tessitura da trama". Essa frase está no site da estilista, ilustrando imagens das costureiras e da modelista, figuras cada vez mais raras e preciosas nos bastidores do mundo da moda. 

Sonia Pinto: preciosidades

O universo sobre a seda

A inspiração de Sonia vem de uma matéria-prima muito particular. A coleção, que entrou na loja em setembro, surgiu de crepes jap
oneses de fibra de poliamida. "Estou com quatro tecidos: um impermeável, como se fosse de papel bem fininho, esses crepe e a seda pintada com o universo, os lunares. Como a nossa energia é em círculos, vou fazer uma coisa que mostre isso. E assim vou sequenciando. Não crio uma coleção única mas várias pequenas ao longo do ano", explica.

'É importante dar chance para as pessoas andarem bonitas'

A roupa de Sonia Pinto é atemporal, feita para vestir uma feminilidade acima de tudo pensante e contemporânea. Para ela, a mulher que se aperta nas formas justas e abusa do decote, está precisando ser aceita. "Às vezes pela própria amiga. Ela quer mostrar que seduz. Nós, que temos um senso de estética, pensamos: essa pessoa podia estar tão diferente, podia estar tão bacana!”, observa.

Espaço Sonia Pinto

 

Muitas vezes na loja, essa transformação acontece. Chegam clientes novas e à medida que começam a provar os modelos descobrem que também há vida inteligente fora do estilo Chanel e Louis Vuitton. "Na hora em que começam a vestir minha roupa, percebem que não tem marca e que a roupa veste de outro jeito. Essa transformação é bonita. Elas se descobrem de verdade. Não têm que provar nada para ninguém".

 

Gente, olha pra cá porque isso aqui é bacana!

Recentemente, Sonia fez o evento "Preciosidades", em São Paulo e Belo Horizonte, com vários artistas, entre eles, dois joalheiros bem especiais: Kika Alvarenga e William Farias, que criaram peças especialmente para a ocasião.

"Expusemos trabalhos autorais, aos quais a maioria das pessoas não têm acesso e que esse novo rico, que está aí, não entende. Eles querem comprar dourado, prateado, aquelas coisas de mau gosto. Não têm um olhar para identificar um objeto de arte especial. Gente, olha pra cá porque isso aqui é bacana!", diz Sonia, que reuniu também talentos como o 
Studio Manus, a ceramista Kimi Nii, Bia Bender e sua cestaria de cordas, que viraram esculturas pintadas, Américo e seus trabalhos em arame, Rita Lessa, com um universo de pinturas, tapetes e objetos marcado por pinceladas artsy.

Sabe quantas tonalidades de preto existem?

O preto é a cor preferida de Sonia. "Muita gente acha que eu vivo de luto. Não sei em que momento passei a usar só preto. Eu usava branco, cinza, cáqui, sempre tons mais neutros. Dificilmente estou com uma estampa. Meu guarda-roupa é todo preto. O preto protege de uma energia que vem contra mas também você não recebe nem a contra nem a favor. Não consigo mais usar cor. É uma falta de cor. Minha cor está no cabelo, uso azul, vermelho, rosa. Gosto de um sapato colorido. Talvez pela praticidade, é uma cor que eu adoro, acho mais chique. Sabe quantas tonalidades de preto existem? Mais de 28. O preto avermelhado, o preto azulado, o grafitado. Eu faço patchworks só de preto e você não acredita a beleza que fica! Estou preparando uma coleção de patchworks só de pretos".

Num momento de moda tão padronizada, em que perdemos estilistas marcantes por sua estética própria, Sonia sabe que tem uma cliente cada vez mais ávida por suas coleções. "Justamente agora não posso me perder de mim".

Espaço Sonia Pinto

Rua Melo de Souza 87, Vila Paris, Belo Horizonte, tel. 31 2552-0355
Rua General Jardim 770, Higienópolis, São Paulo, tel. 11 3255-9798

Multimarcas

Dona Coisa: Rua Lopes Quintas 153, Jardim Botânico, Rio de Janeiro, tel. 21 2249-2336
Euforia: Av. Comandante Brás de Aguiar 265D, Nazaré, Belém, tel. 91 3241-3323

 

 

 

 

 

 

 

 



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