Ronaldo Fraga mapeou o coração para falar de amor. Lago dos momentos felizes, arquipélago da ingratidão, oceano da afeição, "em tempos de guerra, falar de amor é um ato de subversão e resistência", escreveu o estilista em seu release. Os desenhos do seu "Caderno de roupas, memórias e croquis" ganharam vida na animação da boca de cena colorindo o cenário de camas desfeitas na passarela. Inesquecível e arrebatador.


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No final os modelos se deitaram aninhados em grupos de três e quatro nas camas numa instalação viva intensamente fotografada pela plateia. Um protesto de gênero? "Não", respondeu o estilista, "não fiz nenhum protesto sobre gênero. Já passou da hora de entender que moda é cultura e já passou da hora de entender que o amor não tem gênero".

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Ronaldo se orgulha de ter feito uma coleção com matéria-prima 100% nacional. "Temos que fazer uma união de forças de todo setor. Nós da moda não temos história de articulação política então você vê o Brasil feito a mão, o Brasil indústria, cada um numa ilha. Estamos precisando de união. Fazer como foi feito no cinema. Nós temos que melhorar nossa produção para que sejamos competitivos", afirma.

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Na indústria nacional ele cita como exemplos de resistência várias empresas e iniciativas, como a Arco, de bordados. "Ela é de 1938. Imagina uma empresa de bordados que está aí de pé e daqui a pouco está fazendo 100 anos. A RenauxView, de muitos anos, que tem uma excelência em jacquard, a seda pura do Vale da Seda. Existem pontos de resistência e nós precisamos resistir. Falo do amor como ato de resistência".

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'O Brasil é o único produtor da seda no Ocidente'

O estilista trabalhou em parceria com o Vale da Seda e observa: "o Brasil é o único produtor de fio de seda em escala comercial no Ocidente. Fizemos quase todas as roupas em seda e até nas de algodão havia composição de seda". Ronaldo visitou as cidades do Vale para conhecer o trabalho. Cidades como Londrina e Bastos fazem com que o Brasil seja o quarto maior produtor mundial de fios de seda crua. Atualmente cerca de 90% da produção brasileira é exportada com baixo valor agregado.

'Um pais não vive sem sua indústria'

"Um país não vive sem sua indústria e o Brasil não vive sem indústria pelo tamanho, pela distância, pelo rombo social que nós temos. Temos que fortalecer a indústria nacional não só pela questão econômica mas pela questão cultural e afetiva. Nossa história passa por essa indústria", diz.

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No primoroso texto do release, fica a mensagem: "portanto transformemos a razão em cifras musicais e resistamos a tempos áridos com os nossos corações de banana, de gelatina, de flores, de cactus". 

 

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