A Pinacoteca de São Paulo foi o cenário para o encontro da Neriage com a obra do artista José Leonilson. "Cartas para Ítaca", título do poema do grego Konstantinos Kaváfis, o preferido de Leonilson, é o nome da coleção. "Quando partires em viagem para Ítaca faz votos para que seja longo o caminho, pleno de aventuras, pleno de conhecimentos (...)
Que numerosas sejam as manhãs de verão, nas quais, com que prazer, com que alegria, entrarás em portos vistos pela primeira vez(...)/ Guarda sempre Ítaca em teu pensamento. É teu destino aí chegar. Mas não apresses absolutamente tua viagem. É melhor que dure muitos anos. Sábio assim como te tornaste, com tanta experiência, já deves ter compreendido o que significam as Ítacas.” Trecho do poema Ítaca, do poeta grego Konstantinos Kafávis (1863-1933)
Muito além de uma coleção de roupas para o verão 2024, o desfile de Rafaella Caniello é uma viagem sensível e sutil pelo universo menos conhecido de Leonilson a partir de trabalhos de 1970, 80 e 90. Ele morreu há 30 anos deixando 3.500 obras entre bordados, diários, desenhos e pinturas, preservadas pelo Projeto Leonilson, fundado por sua irmã Ana Lenice Dias em 1993. Pela primeira vez esse trabalho é licenciado.
A coleção é dividida em três partes: Pérolas, Andarilhos e Âncoras. Na primeira, a inspiração está nos trabalhos com traço mais fluido. Off white e azul contrastam com acessórios dourados, pérolas e jacquards exclusivos. As frases soltas, de diferentes autores, dão a ideia de diário e como as palavras marcam a nossa história, aqui contada pelo tecido e os bordados de linha. Plissados e mix de texturas reforçam os códigos da Neriage num primeiro encontro com o processo do artista.
O bloco Andarilhos entra na segunda parte, a fase viajante com recortes no ombro, modelagens com encaixes de mais de 35 partes, sobreposições, botões vintage e peças que podem ser utilizadas de mais de uma forma.
Tons de terra, amarelo e peças com recortes e silhuetas tubulares formam o terceiro bloco Âncoras, simbolizando a chegada ao destino, à terra natal; o encontro e o brilho após as experiências vividas, o voltar pra casa que sempre nos é necessário após qualquer viagem - e como nos transformamos no caminho.
Entre as parcerias importantes, está a da Levis, em comemoração aos 150 anos do modelo 501. Pela primeira vez a Neriage trabalhou com upcycling, desmontando e remontando a 501 em jaquetas, calças duplas, saias e vestidos plissados.
As joias foram criadas pela Victoria Sayeg em ouro 18k e pérolas de água doce. Os sapatos da designer Juliana Bicudo desfilaram em duas versões de salto - um mule (salto baixo) e uma flatform com salto de 5cm, ambos em couro, com solado de borracha e faixa de couro plissado, em tons que acompanham a cartela de cores da coleção: preto, off white, dourado e ferrugem.
As bolsas e os chapéus foram resultado de uma collab com o Projeto Akra, importante para garantir a renda de várias famílias no Maranhão e na Bahia, além de ter sedes de capacitação também no Peru e em Madagascar - onde foram realizadas as bolsas e chapéus da coleção. As peças foram confeccionadas com a fibra de raphia de colheita ecológica e os tons da coleção foram dados com pigmentos atestados Reach. A fibra se transforma em lindas peças em crochê, com pontos e bordado de franjas exclusivas desenvolvidas pelas artesãs locais do Projeto Akra.